sábado, 16 de maio de 2009

Alegria

Como num sopro de ar,
Como se o mundo fosse voar
E os ventos me dissessem
Que o bem todos fizessem.

Alegria,
E assim a bela senhora me diria bondades,
Me dando flores de grande variedade
Num olhar deleitoso de amor e de ternura,
E assim o palhaço sairia de sua cela escura.

Como a fúria de amar e ser esquecido,
Como a noite que desce do céu escurecido,
É assim que vem a Alegria, fulgente
Como ferro que jazia em brasa quente.

Alegria,
E assim a bela donzela me diria a verdade,
E uma beleza correria por toda a cidade
Numa ventania de amor e de perdão,
E o palhaço sairia de sua cela de escuridão.

E num assalto de pura e meiga harmonia
As mentes se perdoariam num beijo de simpatia,
E todas as manchas do passado seriam limpas,
Não havendo o porquê de guerras e de minas!

Alegria,
Pela dor de morrer sem ser amado,
Pela morte que vem ao inocente mal julgado,
Pelas mortes que nascem de um sorriso
E pelo palhaço que faz do inferno seu Paraíso!

Mas uma flor fará a felicidade em você nascer,
E a tristeza que antes imperava há de morrer,
Como num rompante de luz e de sabedoria
Toda sua alma será tomada pela mais doce Alegria.

Alegria,
Que nasce de um beijo do amante,
Que renasce e que desmorre no mesmo instante,
Que revigora a coração dos mortos em vida,
Que todos em seu manto materno abriga!

Alegria,
Que se deleita no sorriso das crianças,
Que sobrevive além da esperança,
Que renasce quando mais nada há,
Que enxuga as lágrimas que estão a rolar!

Alegria,
Doce menina de olhos de solidão,
Sempre nos estende a parca mão,
Mesmo quando o céu morre em nossas vidas,
Mesmo quando não há chegada nem partida!

Como se a noite se fizesse feliz,
Num momento eu era triste, hoje alegre me fiz,
E as dores que se foram em lágrimas,
As cenas e as mortes trágicas
Se desfazem ao som duma risada,
E a Alegria entra em minha morada!

Alegria,
Depois de todo o ocorrido,
Depois de morrer e ser ferido,
Há de se olhar para esta moça delicada,
E lhe ser gentil, dando-lhe o gozo de uma risada.

Alegria,
Jóias em seus olhos cansados de chorar
Hão de aparecer e sua tez irá se corar,
E ,a cada passo que der, pense no que já se foi,
Veja, enfim, que o palhaço se vestiu de vaca e de boi,
Mesmo que a mãe dele morresse naquele instante,
Ele se fazia forte e se entregava a sua amante.

Alegria,
Lhe fizeram sofrer com mentiras,
Plantaram em sua alma a descrença na vida.

Alegria!
Como se perder pelo caminho?
Como passar a vida sozinho?

Alegria!
No imenso sorriso da esfera solar,
No despertar de um sono secular,
No chá e depois do negro café,
No sofrer de um homem e de uma mulher.

Alegria!
Sofrendo as dores que lhe derem,
Vivendo a morte que lhe disserem,
Tomando a cicuta que lhe matarem,
Chorando as lágrimas que lhe falarem,
Mas a fulgente pena lhe verá sofrer,
E saberá que seu desejo é morrer,
Mas Alegria! Alegria!
Como se perder em si próprio?
Por que morrer tolo e inglório?
Veja em si o que há de forte,
Se erga e vença a Morte!

Alegria,
No sorriso de quem nasce por prima vez,
Na vista de quem vê o bem que fez,
Na verdade de um beijo de amor,
Na mentira daquele que você amou,
Na noite de chuva solitária,
Na morte que lhe vem temerária!

Alegria!
Como num eterno caminhar!
Como se o mundo eterno fosse durar!

Alegria!
Depois de tudo que lhe feriram,
Depois que todos de sua lágrima riram!

Alegria!
O palhaço apanhou a pano e tomou a pena,
Escreveu um nova história mais calma e amena!

Alegria!
E não será por tão pouca coisa que você se entregará,
Mesmo que doa muito, ela ainda lhe oferece a mão, basta aceitar!

Alegria,
A bela senhora me veria contente outra vez mais,
E me daria pães e doces que ela mesma faz.
Numa bela tarde do mais alegre domingo,
Não haveria mais ninguém sofrendo ou pedindo.

Alegria,
A bela donzela me seria tão delicada e dengosa,
E me daria um beijo de forma doce. Ai que cheirosa!
O palhaço não mais penaria,
O poeta, enfim, se ergueria.

Depois de toda a chuva que me molhou,
Depois de tudo o que me feriu e matou,
Ela me vem “come um lampo di vita”,
E me diz: Alegria! Erga-se e siga!

E o palhaço se ergue do frio chão,
Sacode a cabeça, apanha a peruca com a mão,
Põe seu vermelho nariz e volta ao picadeiro,
Porque todo sofrimento é passageiro.


Alegria,
Alegria,
Sem lenços, sem documentos,
Sem dentes, sem feridos inocentes,
Sem virgens defloradas, sem bruxas malvadas,
Como se meu ser fosse brilhar,
Como se o amanhã sempre fosse chegar,
Determinando uma vida plena;
Não mais o palhaço pena!

Alegria,
E um reino sem rei se ergueu
Numa terra perto do Circo,
E próximo ao amarelo Sol.
Uma Cantora Branca me contou
Que muitos lutaram pelo reinado,
Que mataram e foram matados,
Mas no fim, num assalto de felicidade,
A Alegria dominou os viventes de lá
E ,o que antes era azedo, doce foi ficar...

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